Mais Autoconhecimento Ludmila de Moura
Meu casamento terminou, e agora?!
“E agora, José? A festa acabou, a luz apagou (…) e tudo acabou, e tudo fugiu e tudo mofou e agora, José”? (Paulo Diniz)
Terminar uma relação faz a gente se sentir desnorteada(o), mesmo quando a gente que quis, pois a gente sofre pelo que “poderia ter sido”…
Porque mesmo que saibamos que a relação está ruim, a gente sofre porque não queria que acabasse daquele jeito. Ninguém entra em um relacionamento pensando no seu término. Queremos o “para sempre”, “até que a morte nos separe”, mesmo quando não casamos na igreja.
Mesmo sabendo que o casamento eterno é um mito, que a literatura e a música reafirmam em nós diariamente. É o amor que nos dá a ilusão de segurança, de permanência eterna nessa vida. Nenhuma relação acaba de repente….são pequenas insatisfações, frustrações, traições de confiança, incompreensões, que vão minando a relação, até que uma hora “não se sustenta e um dos dois decide terminar, ou os dois (o que é mais raro) …. Parar de fingir que não está acontecendo nada.
“Se ele me entendesse”, “se ela mudasse um pouquinho”… muitos movimentos de separação-reconciliação acontecem até a separação definitiva. Pesquisas apontam que na grande maioria dos casos quem decide se separar são as mulheres. Os homens só se separam quando se apaixonam por outra pessoa … Senão eles “vão levando”, fazendo da casa como que um hotel…. Então se a mulher não aceita isso, ela busca a separação.
Observei que isso realmente é muito frequente, principalmente nos casais mais velhos. Os mais jovens estão se separando mais facilmente. É a geração do tudo descartável, substituível…mas isso não quer dizer que para eles seja mais fácil. Na verdade acho que aprenderam a negar a dor, por isso substituem rapidamente um amor por outro, buscam tanto baladas, bebidas, drogas etc, uma ilusão de liberdade! Mas isso é assunto pra outro post.
Dói, dói muito. Dói também porque nestes momentos revivemos outras dores, outras perdas já vividas, desde nosso nascimento. E dependendo do motivo, é pior ainda. Quando o amor simplesmente acaba, a separação pode ser mais tranquila (ou menos turbulenta), pois os dois admitem que estão infelizes. Mas quando há traição, a dor é maior! Você se sente trocada(o) por alguém que ele(a) considera melhor do que você.
Então nós nos sentimos a pior das pessoas, alguém que não merece mais ser amada, que nem sequer merece o respeito de uma separação sem chegar à traição. Achamos que a falha foi somente nossa e tendemos a ter uma grande crise de autoestima. Também pode ser mais complicado quando temos filhos, bens… mas isso fica para outro post.
E o que podemos fazer com tudo isso?
Como podemos transformar essa dor em um processo de autoconhecimento, de crescimento emocional?
Existem muitas receitas de como conquistar um amor, mas não nos ensinam a como nos separar sem nos sentirmos destruídos, sem esse sentimento de aniquilação. Precisamos parar e pensar e repensar algumas ideias sobre o amor e relacionamentos, que atrapalham nossa vida.
1.Precisamos entender que quem trai é porque não teve coragem de olhar a relação e admitir que não estava bem! Não teve a maturidade para perceber o que deveria ser feito para o relacionamento não acabar!! É alguém que não te respeitou como pessoa, além de companheira(o)! E é por alguém assim que você está chorando?
Está lamentando perder essa pessoa real ou um sonho de pessoa que você construiu na sua cabeça?
Sim, porque se essa pessoa realmente fosse essa maravilha, ela jamais faria isso com você. Com seus filhos (se tiverem) e suas respectivas famílias. Sim, todos sofrem juntos! Todos são envolvidos, não somente o casal.
2.Outra ideia que precisa ser mudada: precisamos saber e admitir atualmente que o amor não é para sempre! O amor não resolve tudo, não supre todas as nossas carências! Antigamente o casamento era “para sempre” porque as pessoas morriam cedo, antes dos 50 anos. E mesmo assim era aceito que o homem tivesse outros relacionamentos fora de casa! Estamos em outra época!
3.Os relacionamentos são como peças de quebra-cabeça que vão se unindo e ajudando na formação de nossa personalidade. Buscamos nos relacionamentos suprir algumas necessidades e é importante que saibamos quais. Geralmente buscamos no outro curar feridas de nossa infância, dores que estão inconscientes, na maioria das vezes.
Por exemplo, uma mulher insegura pode ter se casado com um homem que a tratava como uma filha, fazendo sentir a segurança que seu pai não dava, na sua infância. Porém com o passar dos anos ela foi se desenvolvendo, ficando realmente mais segura de si, até como resultado das aprendizagens com o próprio marido. Então ela muda suas necessidades, buscando agora uma maior independência no casamento. E se seu marido não mudar também na mesma direção que ela, aceitando esse novo papel (não mais de pai-protetor), a relação pode ficar insustentável! E aí ocorrer a separação.
Então você precisa examinar as suas atuais necessidades, e as de seu ex-companheiro(a) para entender por que o relacionamento acabou. Só assim nos prepararemos para continuar em nosso desenvolvimento interno, com nossa autoestima preservada.
4.É comum passarmos por vários tipos de sentimentos e é importante conhecê-los para identificar em que estágio nos encontramos. A primeira reação que costumamos ter é de NEGAÇÃO do que está acontecendo. E essa dor pode se manifestar fisicamente, com a ausência de fome, com insônia, dores no corpo.
Inicialmente precisamos nos permitir sentir a dor do abandono. Negar a dor só piora. Tendemos a ter sintomas físicos, a adoecer, a SENTIR NO CORPO quando não conseguimos PENSAR a respeito do assunto! Também podemos passar pela fase da BARGANHA, onde você faz promessas de mudar, de ser outra pessoa, pra que tudo volte a ser como antes. E nesta fase alguns casais se reconciliam, mas se não mudarem realmente, em pouco tempo tudo volta a ser como antes.
Quando os fatos já não permitem que continuemos negando as dificuldades, quando a separação realmente acontece, surge o sentimento de RAIVA – do outro, por estar “me abandonando”. Aqui há o risco de se colocar no lugar de vítima, o que dificultaria reconhecer que o relacionamento agora é apenas a fantasia de um dos dois, pois para o outro já acabou.
Outro sentimento comum é o de CULPA, onde você se cobra que deveria ter feito diferente, quase “ser” outra pessoa. E a culpa pode te elevar a um processo de depressão. Pensar assim não é nada saudável, pois é importante reconhecer que os dois são responsáveis pelo relacionamento ter chegado a um fim. Nós somos o que podemos ser a cada momento, fruto de nossas vivências, experiências, educação. Não dá de uma hora pra outra nos transformamos…é um processo lento .
TRISTEZA SIM, DEPRESSÃO NÃO.
Sentir tristeza é normal, necessário “lavar a alma” com muitas lágrimas… Para aprendermos com a experiência, com a dor… Mas aqui temos que estar atentas à tendência de só nos lembrarmos das coisas boas. Temos que nos esforçarmos conscientemente para pensar nas dificuldades do relacionamento, nos “buracos” que não quisemos enxergar… De como você também não estava feliz… É bom pensar que se você não serve mais para a outra pessoa, ela também certamente não serve mais para você, não pode fazê-la mais feliz. É bom lembrar que esses fases podem se alterar, podemos ficar em alguma mais tempo do que em outra.
5.Precisamos agir, fazer coisas para que essas fases sejam mais curtas, para que aja a SUPERAÇÃO – SUPER AÇÃO – em direção a um novo eu. Como dizem, “água parada, apodrece”! Gente também! Saia de casa, passeie, converse muito, procure fazer as coisas que você deixou de fazer porque o(a) seu(sua) parceiro(a) não gostava…
Só quando você encarar que realmente a relação acabou, vai poder iniciar seu caminho em direção à cura – das feridas abertas pelo relacionamento não ter dado certo. Aí estará na fase de ACEITAÇÃO. Aceitação de quem você realmente é, de quais são suas necessidades atuais, de que tipo de relacionamento você busca, enfim, um maior nível de AUTOCONHECIMENTO.
Aí vai poder se abrir novamente para um novo AMOR, depois de ter aprendido a SE AMAR DE NOVO. Lembre-se, você tem que ser uma pessoa INTEIRA pra poder achar outra pessoa também INTEIRA… Conservar os momentos EU e ter momentos de NÓS. Viva cada dia por vez… não tente controlar tudo… VIVA O HOJE, pois o passado não dá pra mudar e o futuro é construído HOJE.
Gosto da imagem de que é como se mergulhássemos no fundo do poço, mas para pegar impulso para retornar à superfície. A água também simboliza o renascimento…
Iniciei com uma música e termino com outra, que resume minhas ideias:
“Começar de novo e contar comigo, vai valer a pena ter amanhecido, ter me rebelado, ter me debatido, ter me machucado, ter sobrevivido, ter virado amesa, ter me conhecido”… (Ivan Lins)
UOW!!! Incrível postagem Ludmila.
Só tenho a agradecer por ter escrito esse texto tão elucidador sobre esse tema tão delicado e recorrente.